A tecnologia é tão importante no dia a dia que é difícil se imaginar sem ela, não é mesmo?
E é verdade que ela facilita muito, desde a comunicação até para o conhecimento. Mas há consequências positivas e negativas, como a dependência.
Você sabia que a proporção de usuários de celular é 3 vezes maior do que a de usuários de internet e 5 vezes maior do que os usuários da televisão?
Segundo um levantamento de pesquisas, 176 milhões de pessoas no mundo são viciadas em tecnologia. E há cada vez mais casos sendo identificados.
Levantamento realizado pelo Google mostra que 73% dos brasileiros não saem de casa sem os seus dispositivos móveis.
A estimativa é de que, atualmente no Brasil, 10% dos brasileiros sofram com esse transtorno.
A nomofobia é mundialmente intensa, mas foi potencializada pelo isolamento social na pandemia, especialmente no Brasil – país que lidera ao lado da Indonésia – o ranking de tempo gasto diante da tela: 5h30m de uso diário. A média mundial é de 4h48m.
O que é nomofobia?
Como todos já devem saber, “Fobia” significa medo irracional e/ou exagerado. “Nomo” é uma abreviação do termo em inglês “No Mobile” que significa “Sem aparelho móvel”.
Sendo assim, nomofobia é o medo de ficar sem o aparelho móvel, seja um celular, tablet, notebooks ou videogames.
Este termo não é reconhecido pela comunidade médica, mas tem sido utilizado e estudado desde 2008 para descrever o comportamento de dependência e os sentimentos de angústia e ansiedade que algumas pessoas demonstram quando não têm o celular por perto.
É um transtorno muito comum que afeta principalmente a população jovem, por crescerem utilizando tecnologia e por serem mais ativas nos meios digitais, principalmente nas redes sociais.
As redes sociais são responsáveis por 70% do tempo dispensado aos aparelhos.
Quanto maior for a dependência digital, maior é a fobia.
O principal discurso de pessoas com esse transtorno é que podem passar mal na rua e, sem contato, ficariam sem socorro. Podemos fazer um paralelo: imagine um usuário de drogas quando ele pensa em ficar sem a droga. Ele apresentará sintomas tais como: taquicardia, sudorese, irritabilidade, impaciência, pânico. Segundo especialistas da área, ocorre o mesmo com quem possui o vício do celular.
Um estudo da Universidade Técnica de Ambato -Equador, concluiu que a nomofobia afeta significativamente o processo de ensino-aprendizagem e que os estudantes sentem ansiedade e medo quando estão com seus celulares, olhando o aparelho frequentemente durante a aula, na espera por mensagens.
Outro estudo também de Ambato, observou a incidência da nomofobia nas relações socioafetivas de jovens entre 17 e 21 anos.
A conclusão foi que esses jovens consideram o celular uma necessidade básica para se relacionarem, deixando de lado as relações pessoais. Foi constatado também que o apego ao celular chega a ser maior do que o apego por familiares, gerando conflitos nas famílias e problemas de comunicação.
Sintomas
Horas com a cabeça baixa, olhos fixos no celular e dedos deslizando incessantemente sobre a tela. É assim que grande parte das pessoas passa o dia.
O uso excessivo da tecnologia relaciona-se a uma condição a qual a pessoa é incapaz de conter e controlar seu desejo de uso. Ela perde a noção do tempo e demonstra nervosismo, irritabilidade e agressividade quando privado de suas conexões.
A dificuldade na mudança de comportamento pode ser comparada à enfrentada por dependentes de drogas químicas. O sistema inibitório, responsável por regular as emoções e impor limites ao próprio corpo, não funciona corretamente e a atenção pregada na telinha acaba por prejudicar outras atividades, como tarefas domésticas e o trabalho.
Entre os sintomas característicos da nomofobia estão:
- O hábito de verificar de maneira obsessiva as chamadas perdidas, redes sociais ou e-mails;
- Ficar continuadamente preocupado com a duração da bateria;
- Mostrar-se incomodado de ir a locais sem conexão wi-fi;
- Acordar a noite para checar as notificações;
- Não conseguir se afastar do aparelho quando está realizando outras tarefas que não necessitam dele;
- Ser incapaz de ir ao banheiro sem levar o celular junto
- Ter a impressão de que a toda hora o celular está tocando ou vibrando;
- Em casos mais extremos, sintomas de abstinência na falta do aparelho, como taquicardia e sudorese;
- Necessitar fazer várias pausas no trabalho para utilizar o celular.
Há também alguns critérios que são observados para avaliar se o uso da tecnologia deixou de ser saudável e se tornou uma dependência. Desses 8 itens a pessoa precisa apresentar os cinco primeiros e pelo um dos três últimos. Veja a seguir:
- Preocupação excessiva com a internet;
- Necessidade de aumentar o tempo conectado para ter a mesma satisfação;
- Exibir esforços repetitivos para diminuir o tempo de uso da internet;
- Apresentar irritabilidade e/ou depressão;
- Quando o uso da internet é restringindo, apresentar oscilação emocional;
- Permanecer mais conectado do que o programado;
- Ter o trabalho e as relações familiares e sociais em risco pelo uso excessivo;
- Mentir aos outros a respeito da quantidade de tempo em que fica navegando.
O psiquiatra responsável pelo Ambulatório de Dependências de Comportamentos do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes do CAISM Vila Mariana) da Unifesp, Aderbal Vieira Jr., explica que, de modo geral, o uso dependente de aparelhos eletrônicos ou da internet, passa por três eixos:
- A sensação subjetiva de perda de controle sobre o tempo, quantidade, momento ou tipo de uso desses eletrônicos. A pessoa sente que está exagerando, gostaria de fazer diferente, mas sente dificuldade ou impossibilidade disso.
- Disfuncionalidade: o uso causa prejuízos em diversas esferas da vida, como trabalho, estudo, relações interpessoais, período de sono, acidentes de trânsito (digitar dirigindo) etc.
- Empobrecimento existencial: a pessoa vai perdendo riqueza de repertório, cada vez mais substituindo atividades gratificantes ou importantes de seu cotidiano pelo uso da internet.
“O uso excessivo também pode reduzir a capacidade de concentração, aumentar sintomas ansiosos e depressivos, aumentar o sedentarismo, desencadear problemas oculares como ressecamento dos olhos e miopia, causar insônia, dificuldade de adiamento de recompensas e intolerância a frustrações, causar dores no pescoço/ombro/costas, prejudicar a postura”, enumera Júlia Machado Khoury, psiquiatra pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
A propensão ao transtorno é maior em quem já sofre de depressão e ansiedade.
Além disso, outros sintomas físicos que parecem estar associados aos sinais nomofobia são os de vício, como aumento do batimento cardíaco, sensação de transpiração excessiva, agitação e respiração rápida.
Uma vez que a nomofobia ainda está sendo estudada e não é reconhecida como um transtorno psicológico, ainda não existe uma lista fixa de sintomas, existindo apenas vários formulários diversos que ajudam a pessoa a entender se pode ter algum nível de dependência para com o celular.
Os principais prejuízos causados pela Nomofobia
1. Você está perdendo tempo
2. Você fica mais ansioso
3. O excesso de celular pode causar insônia
4. Seus filhos vão adquirir os mesmos hábitos
A nomofobia leva a um estado de ansiedade que pode se tornar patológico, levando principalmente a um transtorno de ansiedade social, ao transtorno do pânico e agorafobia.
Sabemos que o transtorno do pânico se materializa em um forte surto inesperado com desconforto e medo intenso que pode chegar a um ápice que gera diversos sinais e sintomas desconfortáveis e muitas vezes traduzidos como desesperador para a pessoa. Importante compreender que esse transtorno revela a necessidade de considerar no mínimo quatro sintomas, dentre outros sintomas. Sendo eles, classicamente apontados pela literatura:
- Desconforto torácico;
- Sensação de obstrução das vias áreas;
- Vertigem e síncope;
- Medo de acontecimentos imediatos, como a morte;
- Medo de enlouquecer, ser julgado ou na atualidade cancelado;
- Sensação de estar em outra realidade, estranhamento ou distanciamento social;
- Problemas gastrointestinais;
- Dormência ou formigamento no corpo;
- Aumento das funções cardíacas, gerando palpitação e aumento da pressão arterial e frequência cardíaca;
- Aumento das funções respiratórias, com sensação de asfixia ou falta de ar;
- Sudorese;
- Tremores, espasmos ou outras disfunções motoras
Tem tratamento?
Sim, apesar de ser um problema recente e consequentemente menos explorado.
O tratamento é feito através de psicoterapia para que possa se livrar da fobia ou evitar que o transtorno interfira no dia a dia.
Então, como utilizar o celular de forma saudável?
Abaixo, relacionei algumas dicas:
- Estabeleça um limite de uso diário para atividades não relacionadas ao trabalho ou estudo;
- Desenvolva hobbies incompatíveis com o uso do celular, como pintura, jardinagem, meditação, exercícios físicos etc.;
- Tenha “zonas livres de tecnologia” em casa, como o quarto e a mesa de jantar;
- Equilibre o tempo entre o celular e o contato humano. Para cada hora que você investe na frente de uma tela, invista o mesmo tempo conversando com pessoas presencialmente;
- Use aplicativos que bloqueiam o tempo de uso das redes sociais;
- Em situações sociais, proponha um pacto de ninguém usar o celular;
- Desligue as notificações. Configure seus perfis para não receber os avisos automáticos;
- Quando precisar se concentrar, deixe o aparelho em outro cômodo ou dentro da bolsa
- Diminuir progressivamente o uso do celular;
- Não utilizar o celular nos primeiros 30 minutos após acordar e nos últimos 30 minutos antes de dormir;
- Desligar o celular durante a noite.
A tecnologia não é o problema e sim, a forma como nos relacionamos com ela. Devemos utilizá-la de maneira consciente para que seja uma ferramenta de auxílio e não uma dependência.